sábado, 16 de junho de 2012

Vontade e Representação


Que ilegível transparência,
De quando achei que o vento soprava,
(Eram apenas “sombras de coisas alheias”).

De quando pensei ter escrito versos inteiros,
(Era apenas linguagem truncada),
De quando pensei ter atingido seu coração,
(Era apenas presunção).

Minha vontade,
E representação.

De quando pensei ter visto luz nos seus olhos,
(Era a luz apenas um vermelho sinal),
De um tácito “Pare”,
Que continuado,
Lhe seria indiferente.

Vontade e representação,
De formas imperfeitas,
De sinais amordaçados,
De imagens vendadas.

Foi tudo signo, quase-signo,
Signo sem poder de representação.

Minha vontade,
E representação.

Que é um signo que não pode representar-se?
Que és tu?

Minha vontade,
E representação,

Sua verdade,
E versão.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Joga

Joga no esquecimento,
O teu murmúrio,
Joga no esquecimento,
Esse zumbido do mundo.



Joga no esquecimento,
O bolso furado,
A pele que enruga,
A água que acaba,
O cabelo que cai.


A bomba,
A regra,
O anúncio de guerra,

A ira dos deuses,
E aquela força,
Que aos poucos se esvai.


Joga no esquecimento,
Aquela vontade de amor,
Amor, amor,
Meu amor,
Te jogo no tempo que vai.


Joga no esquecimento,
No canto da casa,
Na esquina da rua,
No acaso ou no mar.

Joga no tempo,

Mantendo a esperança,
Jogada na lembrança,
Deste esquecimento,
Que certamente,
Um dia reencontrarás.

quinta-feira, 1 de março de 2012

E eu me sinto só,
Como um oásis num deserto,
Como um horizonte,
Num inverso sem fim,
Sem par,
Só,

E eu te sinto só,
Como um raio,
Que corta o mundo,
Como um rastro,
Que se espraia no chão,
Como quem anda com pressa,
Em busca do destino,
Só,


Eu sinto um mundo só,
Tão partido,
Tão individuo,
Te sinto, mundo,
Quão Narciso,
E sinto muito,
Por ti,
Só,


E assim,
Sou eu para ti,
Como um oásis,
Num deserto,
Sou eu para ti,
Um oásis em teu deserto,
Só.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Saudoso

Saudoso mundo em que vivo,
Saudoso dia antigo,

Do dia em que um amor eu saudei,
Do dia em que sozinho eu andei,

Saudoso mundo em que vivo,
Saudoso, saúdo um dia de saudade.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Modernos

Por que,
Por que a vida é,
Por que ora existe,
Ora desiste de ser,

Por que,
Por que a vida é.

Por que,
Por que a vida quer,
Por que ora deseja,
Ora repulsa,
Credora de si mesma,
Guerra do ser.

Por que,
Por que a vida é.

Esta bela antítese,
Desde sempre existe para não existir,
Marca o paradoxo metafísico,
De uma existência compartida,
Entre o sim e o não.

Tão logo,
O poeta não mais fala,
De ser ou não ser,
A antítese existe,
Para encontrar nela,
Sua tese.

Por que,
Por que a vida é.
O que,
O que da existência?

Nela te reconheces,
Dela tu me perguntas,
E eu te respondo,
Porque tu pensas em horas
Que este vil relógio que tanto olhas,
Não pode contar?